sábado, 26 de maio de 2012

Nada ficou no lugar...

A morte?! É apenas um estado de alma permanente calmo. Sem chilrear de pássaros gulosos nas cerejeiras salpicadas de vermelho. A morte é esse intervalo permanente dos morangos rasteiros, também vermelhos, como ela, esse estado de alma, confortável e flutuante. Não há que ter medo de ser levada pelos seus dedos. É plácida sem cheiro a mar e a flores silvestres, mas de um silêncio de bálsamo que torna as lágrimas doces que fogem das palavras, aquelas coisas, que esmigalham o peito, em fragmentos que estão assim, presos entre si pelo nada. A morte é surda. E todas as palavras em rosário maléfico e cínico, não caem dentro da alma, como vidros estilhaçados, que rasgam o peito por dentro sem cura. A morte quer o meu vestido branco e esvoaçante, o meu corpo perfumado pelo último perfume, e leva-me para lá do mar e da montanha. Segura-me forte, com as mãos, para que eu não esmoreça de voltar, novamente, para a casa fechada e para a dor de não saber existir, por aqui e por acolá, numa espiral sem sentido, aos encontrões que raspam a minha pele e deixam cicatrizes ensanguentadas de outros rostos e de outros sentires. A morte é isso. Aquele caminho de flores brancas que irei calcar sem medo e sem arrependimento daquela que um dia ousou viver. E eu serei a est(r)ela além do sol que olha os seus amores num outro jardim, ou numa cidade viva, com asas inteiras a voar, na plenitude feliz, até um dia se encontrarem todos, de mãos dadas além do sol, para lá da cidade grande.

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