quinta-feira, 21 de julho de 2011

Condicional



Não sei as horas que nos separam. Não medi a distância da linha do horizonte, aqui atrás da desta serra que me envolve. Sei que estás além dessa linha, num cansaço de nomes que por vezes te calam a voz e envolvem de silêncio os teus olhos. Se eu passasse a ponte ficaria bem perto de ti. Mas a estrada puxa-me para o mar que fica na foz do teu rio calmo.

Sabes, hoje olhei essa linha. Estava mesmo junto ao meu jardim ainda por florir com flores requintadas. É imperfeito o meu jardim. Não tem rosas, nem amores-perfeitos. Pensei em ti. Misturamos sempre tantos sabores e odores. Sorri na desordem de flores amarelas sem nome. Colhi uma mão cheia delas e percebi o cheiro a hortelã que as salpicava. A minha casa hoje tem flores do campo em desordem com folhas de hortelã. Assim como as da tua montanha. Aproveitei antes do meu jardim se tornar no meu mundo doméstico de uma mesma perfeição igual à tua.

Quase esquecia de te dizer, neste enlevo que te lembra, que mudei de perfume. Não mudei nem a pele nem a cor dos meus olhos. Por isso acredito que me sintas, mesmo com um perfume diferente, envolvendo o meu corpo, moldado ainda pelas tuas mãos. E sei que o verde dos nossos olhos se mistura ainda, pelo desejo dos nossos dedos, que desenham os mesmos gestos nos mesmos lençóis. Misturaste-te com o meu odor. E aqui, na minha cama vazia e sem espaço livre para qualquer outro corpo, ainda te cheiro, no movimento do meu cabelo meticulosamente liso.

Sabes, este silêncio trazido nas tuas últimas palavras sabem a sal, sem a doçura do teu toque meigo doce. Porque o teu corpo é um rio, e o rio é doce, e sempre se encontrou em mim, salgada. Por isso éramos a mistura perfeita. A miscelânea de sentidos, consentida numa emoção quase racional. E eu não sei ainda escrever palavras no pretérito passado. Talvez porque nunca as tivéssemos escrito no futuro. Nem num futuro próximo, sequer! E este presente soa a incompleto e o meu coração ainda não «fechou a porta», e tu não ensurdeces o ruído da minha saudade.

E bastava apenas que eu atravessasse a ponte. Mudasse a estrada de cheiro a mar, e escalasse a tua montanha, como eu fazia pelo teu corpo, e tu deixavas, numa quietude límpida, pura e grande como tu!

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