quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

(des)espero...



Ela esperou. Esperou as palavras os gestos o tempo e as palavras outra vez. Esperou o rosto o corpo o homem o amigo o amante vezes a multiplicar por vezes. Contou dias os meses as estações do ano! Vestiu-se de alegria cor verde na Primavera e despiu a roupa leve no Verão triste e quente, na areia de cheiro a conchas vazias dele. Calcou as folhas do Outono no banco do jardim, ouviu estalidos castanhos e vermelhos dessas folhas caídas que voavam de frente para o mar lá longe. Preparou o corpo, aquecendo a alma vestida de uma calma branca no Inverno gélido e esperou. Mudou o cabelo em cor de fogo acobreado quase avelã. Ouviu os elogios dos homens que a chamam pelo nome na delonga de um infinito qualquer. Sorriu mas não foi! Aconchegou mais a alma nesse desespero de espera vã.
E o tempo parou cansado. Fatigado da espera dela! Ela puxou-o pela manga. Olhou o tempo num grito mudo. Rogou, pediu, implorou mas o tempo estava moribundo já. Sacudiu-lhe a mão num gesto terno e numa voz imperceptível numa respiração breve sufocada disse-lhe para ela partir. E o tempo parou prostrado no alto da montanha e viu-a descer esfumando-se no fim de tarde no fim das estações dos dias das horas, até a silhueta ser apenas uma imagem guardada na memória escrita a tinta permanente, indissolúvel nos fragmentos salpicados no espaço já sem ele! Já sem tempo!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Cativo...




Olhou para o telemóvel pela última vez antes de ler o sorriso. Voltou ao seu lugar cativo na sua sala de gente familiar. Crepitava o fogo quente das chamas frias da sua lareira. Espalhavam-se os papéis desembrulhados dos presentes já sem laços, que persistiam na confusão dos risos dos miúdos irrequietos. E nas janelas reflectiam os gestos das conversas em que ele entrava com as palavras certas e os sinais de um casamento perfeito e conservado, ao mesmo sabor de todos os anos, nas douradas de mel caseiro, confeccionadas pelas mãos que já não adoçavam o seu corpo nem amaciavam a sua pele. Ela sentou-se ao seu lado enrolando a madeixa loira, enrolando o seu lugar de dona de um amor já sem dono. Um casal tão meticulosamente perfeito! Uma mesa recheada de receitas doces, mas que não curam as arritmias da ausência do desejo! Ela sabia isso. Ele respirava isso! Mas a madeixa esquecida no seu dedo melancólico, prendia-o a um quase obrigatório de ele se sentar esquecido de si, mas ao seu lado. E depois, pensava ela, aquela gente, bem ali à sua frente, não via, não sentia, não sonhava, que entre o cheiro a Natal daquela sala límpida e de luz, se deitava consigo um corpo morto de sentidos, quando todos fossem embora para suas casas, contagiados por um amor idealizado e irreal, que se provava nas sobremesas servidas no serviço de porcelana. E ela olhava-o embebida pelas suas palavras. Soletrava nos seus lábios finos as mesmas sílabas sem assento tónico do seu homem cativo. Degustava cada gesto das suas mãos morenas, prendia o olhar vigilante no movimento inconsequente do corpo grande dele e sentia-se senhora! Possuía! Tinha! O único pronome possível no seu léxico pobre de amar! O determinante possessivo «meu»! E a incapacidade de não sentir o desenlaço da alma dele, mais logo, na cama que já foi dos dois, e a incapacidade de entender a solidão dele, enroscado no abraço dela. Depois, ele levantou-se da conversa informal, retirou-se, sereno, da confusão que o cercava na noite alta e gélida que se prolongava nas horas. Desprendeu por momentos a corda que lhe apertava os pulsos e que era da mesma cor do laço vermelho do presente oferecido a pedido oficial. Esperou-a distraída. Olhou num lance rápido o telemóvel escondido no bolso dos jeans. Olhou. Mas não voltou a ver o sorriso! Engoliu o trago amargo. Pensou nela. Na outra, na do cabelo cor de avelã e de olhos quase verdes. Estaria onde e como e com quem. Alheou-se por instantes dos seu afazeres oficiais e domésticos. E quase a sentiu, preso ao seu odor, daquele perfume que o liberta da madeixa loira e melancólica, dos gestos formatados e das palavras politicamente correctas. E acordou, segundos bem próximos, com a voz da filha que o balançava, para as instruções do brinquedo novo. E obrigou-se para o sorriso dos lábios finos que o percorriam do outro lado da sala perfeita! Escondeu de novo o telemóvel, escondeu de novo a negação da paixão que ainda sentia! E deixou-se preso na imensidão do conforto doméstico da dourada com sabor a mel!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Uma talisca de nome timbrado...





Pediu-lhe o colo e o abraço. E a porta aberta para a alma misturada no corpo. Ela sorriu e disse sim. Esperou na soleira da porta. Viu amantes passarem de sorriso e sem medo de dedos em laço. Inalou o cheiro a mar perto da montanha e seguiu o sol com brilho sereno nos olhos. Parou o sonho em câmara lenta e vivia a intensidade do dia sem o outro sonho. Fechou a janela e impediu a nortada de entrar. Receou a brisa do mar das conchas e dos godos e mordeu o lábio numa tristeza doce. Ouviu o silêncio. Repetiu o som da melodia daquele silêncio. Primeiro horas depois dias. E sempre o silêncio. Levantou-se então de corpo dorido e pele adormecida da espera. Sentia um sono estranho, um chamamento qualquer, quase místico. Encostou a porta com cuidado e foi procurar uma folha de papel liso e branco. Escreveu um nome em letras maiúsculas. A brisa que esvoaçava nas janelas era agora mais forte. Quase a nortada trazida do mar que a seduz. Não havia luar e o azul da noite transformara-se num preto semblante carregado de frio. Deixou escorregar a folha de papel já não liso por entre a porta encostada. Sem brecha perceptível a olhares alheios, deixando apenas aquela talisca, pequena e doce, e o nome que impedia a porta de fechar com a força do vento norte!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cor e frio...



Limpou as lágrimas. Olhou-se ao espelho e caprichou a maquilhagem. Forçou o riso. Fingiu o sorriso. Depois escolheu com cuidado a saia justa. Vestiu o decote em v. O colar revelava o peito pequeno e provocador. Sentiu um aperto no peito e quase misturava as lágrimas com o risco preto que realçava os olhos quase verdes. Olhou o relógio. A hora estava ali a dizer-lhe para descer as escadas e fechar a porta. Faltava apenas o toque efémero do perfume que ia ficando mesclado na sua pele. Vestiu o casaco quente. Aqueceu alma por momentos. Fechou a porta finalmente e saiu para a rua da noite fria de Dezembro. Fechou a porta das memórias. Prendeu o sorriso nos lábios e decalcou o pensamento com a frase do livro: «A ausência dá de troco a despedida»! A cada degrau que descia passavam os sonhos, os lugares, o mar, a estrela, a caixinha de segredos desvendados por Pandora.
Mecanicamente fechou a porta do carro e não deixou aquela música do rádio tocar. Não essa noite, não com ela de sorriso preso. O Natal estava ai à porta, e o brilho da magia das luzes e do riso feliz das gentes seria algo quase insuportável nesse ano. Mas não queria pensar nisso. Não já.
O jantar esperava-a. Alguém a esperava. Sem planos!
Desprendeu o sorriso nos lábios mas ele colou. No olhar. No beijo macio na face rosada e fria dela. Inconsequente e definível apenas pelo prazer de estar. Naquele momento perdeu, nem que por instantes a chave da porta da memória. E brilhou embalada na melodia de letra bem definida da época de cor e frio bom.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Filha do vento...Norte!



Apertou o casaco branco macio e quente. Deixou embalar os fios do cabelo, solto no vento Norte que lhe afagava as mãos frias. Olhou de frente a imensidão desse mar imponente e ninho de espuma de areia. Depois sentou-se no paredão de pedra gélida com a cidade que ficou para traz. Agasalhou o corpo frágil desse vento que lhe corta o amor em pequenos godos brancos de cores únicas. Espalhou na água gélida as memórias de um amor perdido. Depois numa lentidão de absoluta indiferença olhou o homem caminhante no passeio despido de outra gente. E num quase de tempo só, cruzaram olhares de um sorriso mudo. Seguiu no mesmo ritmo do cabelo dela, nessa linha que traça a fronteira da mesma praia. E ela, segui-o parada, sentada no paredão gélido. Numa interrogação daquele homem, quem sabe, de amor decifrado e esquecido pelo mesmo vento Norte, de mãos vazias, dentro dos bolsos do casaco cheios de nada.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Tarde adiada




Ela esperou a tarde durante fragmentos de palavras repetidas em momentos passados. Umas após outra, as horas silenciavam-se, numa mudez que travava o nó salgado de lágrimas na garganta. O trabalho fluía na pacatez de um dia cinzento. Banalizava-se a mesmice dos lavores quotidianos. Disseram-lhe que aquela cor lhe assentava perfeita na feminilidade da sua usual forma de ser. Pendia o colar de um azul forte. Aceitou mecanicamente o convite para um café simpático. A conversa dizia-se entre sorrisos e risos e olhares escondidos para a mensagem que nunca chegou. O mar estava ali. O colega reparou a pacatez das ondas que combinavam com a nortada calma, invulgar de Novembro. E como é engraçado, nas palavras desse diálogo esconder o monólogo, único, dela, de um único porquê sem resposta. Nem sempre se fala o pensamento. Quase numa distração imposta, enrolava milimetricamente o pacote de açúcar já vazio. Depois desenrolou as palavras gastas. Gastas no silêncio. Este também se diz. Cola-se ao pensamento. Cola-se à ansiedade das perguntas sem resposta. Deixou-se apenas escutar o já dito e aproveitou a fria chuva, que se confundia com o mar, para tirar a chave do carro e partir para as obrigatoriedades do dia-a-dia. Os gestos são mecânicos, sem sentido aparente. Tentou mais uma vez. Perdeu a conta do telefone mudo. Novamente o nó na garganta, salgado, persistente. Conduzia numa velocidade demasiado preguiçosa. Cansada. Absorta num único nome. Magicava mil e umas hipóteses, bailavam, dançavam num carrossel de verdades imaginárias. Somava gestos. Adicionava as últimas palavras dele. A mistura dos abraços incompatível com o silêncio absurdo e a surdez repentina dele. Foi nesta apatia sem nome que chegou a casa vazia e ainda mais fria do que a mudez dessa tarde. Despiu a cor feminina e aconchegou-se no camisolão branco e quente. Sentou-se para ler o último capítulo do tal livro de histórias que somavam a sua história. «Uma Noite em Nova Iorque». Sorriu triste, mas desta vez, engoliu o sal das lágrimas que não ousou chorar. Mesmo sabendo que é só no livro de histórias que vê a sua a terminar, nas luzes de um Natal branco, na Cidade grande que fica além do oceano.

sábado, 19 de novembro de 2011

Lógicas...



Ambiguidades. Duche quente, entre aromas meramente quiméricos, lágrimas mudas, cheiinhas de todas as palavras que nunca se dirão. Nunca! O turco, imaculado, branco, à espera de vestir a pele nua e húmida. A emoção a ditar sentimentos. Desejos. Utopia.
A razão, fora da porta do vapor, da nuvem artificial. O sorriso, nos lábios dos olhos tristes, que não se contemplam. Melhor assim. Opções. Lógicas. O caminho formatado. Acomodado. Fácil. Ou quase fácil. Peças de roupa domesticadas. Comuns. A toalha de linho na mesa. As velas de cores e o cheiro de incenso. O frio da escolha óbvia.
O outro lado do desvio. Novamente a emoção. Ou não. Não uma emoção pura mas racionalizada pela aprendizagem de um comportamento operante. O vício de misturar os sentidos. O abrigo feito de abraços. O livro escrito para dois amantes. Ambos com a razão do capitulo que um dia se escreverá. A estante está cheia de livros assim! Pelo menos a estante dos livros dela! Difícil a razão da emoção. Nada de filosofias que ninguém entende. Simples, aquela que se faz e não a que se pensa. Ambiguidades tão bem interpretadas e tão bem entendidas. Por dois. Ou apenas por um.
Por ambos, os que vestem o turco puro de branco imaculado, num quotidiano de velas de cores diferentes. Os sorrisos lá também são diferentes. Este, perto da estante dos livros, está disfarçado com o fuminho suave e fino do incenso retirado da caixinha que diz: « harmonia e paz!» E o de lá? De que caixinha sairá?!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Intervalos


Sabes que te escrevo. É a única forma que encontro para tatuar os nossos sentidos na alma, depois de me teres tatuado antes o meu corpo, de te teres esfregado nele, deixando o teu rasto cravado na pele. Depois regresso. Junto os caracteres que dão vida ao lacre. Regresso à minha vida quotidiana, igual à de todas as outras pessoas, e como sinto a tua seiva ainda a sair de mim, quente e com o teu cheiro, preciso de nos escrever, nos guardar. E porque este é o único futuro, no nosso único tempo presente possível!Por isso nos escrevo. Sentidos, corpos, sussurros, odores, prazer, mãos, língua, a mistura dos nossos sexos. Mas quando fico quieta, com o corpo mole de um cansaço bom, e sem ti, entre o nosso mar e a tua cândida montanha, apetece-me dizer-te, que faz tempo que transcendemos o corpo! E apetece-me dizer-te que por isso mesmo, adoro os intervalos da nossa lascívia, quando me enrosco nos teus braços de costas viradas para ti, com a minha pele protegida pelo teu colo, a tua respiração calma, enquanto afastas os meus caracóis que pincelam o teu rosto. Adoro ouvir as tuas histórias de miúdo, quando brincavas solto e feliz nessa mesma montanha onde os rios serpenteiam, e a paisagem corta a respiração. E como eu, bicho da cidade, te conto em voz pausada e serena, as minhas histórias de um tempo em que também eu soltava os meus cabelos compridos e loiros, entre as amoras silvestres, de passagem na aldeia, onde as casas cheiravam a feno e não havia fechaduras nas portas, e eu, filha única e mimada, me esquecia do tempo nas brincadeiras com os amigos de pé descalços entre quintais e vinhas, também livres e sem medo. E exactamente porque não sei o que é uma família grande, me delicio nos teus contos de infância, miúdo, de uma família como eu gostaria de ter tido.E como adoro puxar o lençol branco, para me guardar melhor no teu abraço, e tu preferes continuar ao meu lado, repousando apenas a tua nudez morena junto ao meu corpo. E como adormecemos numa lentidão tão tranquila que nos fecha do mundo lá fora. E como é bom poder acordar ao teu lado e do teu lado. E depois aquela tela! Mesmo de frente para a cama que eu olho e digo, um dia é ali que vamos estar os dois, naquela minha cidade de sonho, onde os edifícios rasgam as nuvens, as luzes faíscam à noite, onde tudo é rápido e sôfrego. Aquela cidade que fica do outro lado do nosso mar, onde tenho a certeza que poderei andar de mão dada contigo, beijar-te dependurada no teu pescoço em qualquer rua, praça ou avenida, onde seremos os dois simples desconhecidos para o mundo, mas onde teremos os dois o mundo fechado entre os nossos dedos que se entrelaçam e se mostram a toda a gente. Tu dizes que sim. Um dia! E sorris. E eu acredito em ti. Com a mesma certeza que tenho a tua alma lacrada na minha!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Um quase...perfeito



Poderia sim, continuar a amar-te no silêncio proibido. Poderia ser o outro lado da balança que te equilibra no sorriso, no sexo, no riso, no teu eu que só sabe ser comigo. Poderia ser isso tudo. Hoje, amanhã. Na próxima semana e no mês onde o calor torna os corpos sedentos de areia. Depois calcarias comigo as folhas primeiras do Outono. As minhas cores favoritas que tu sabes que me caem bem. Pegarias na minha mão e brincarias com os meus dedos. Puxavas-me de encontro ao teu peito, onde me aninharia quieta. Poderia ser tua sempre. Trocaríamos presentes em Dezembro. O meu caberia no teu bolso. Assim como cabe o meu coração no teu peito. E tu és o equilibrista perfeito enquanto abres a porta do teu mundo perfeito como tu. Um dia questiono-me. Pergunto-te se estou bem sentada ao teu lado nesse equilíbrio frágil da tua balança. Dizes que sim. Mas eu mexo-me mais um pouco. Caio. Saio do virtual da tua perfeição. Regresso ao meu real quotidiano, imperfeito. As minhas mãos estão ásperas. O meu vestido guardado. Volto a olhar para mim. A minha vida de horas certas e mesmas. Agarras-me? Não. Não podes. Mesmo em desequilíbrio de vidas tuas. Deixas o riso, pesas de novo o teu eu incompleto, sorris apenas. O teu outro lado da balança é raso. Resvala. Toca na relva perfeita do teu jardim perfeito. O sexo será apenas sexo. Sem dedos nem alma quieta no teu colo. Chamam-te para um lanche apetecível, de uma fatia de bolo numa tarde chuvosa de Páscoa. Sentas-te, normalmente no teu sofá confortável. Talvez seja essa a definição mais próxima de amar: amar é saber como agradar o outro com uma simples fatia de pão-de-ló! Olhas pelas vidraças e bocejas aborrecido porque a chuva te impede de molhar o teu corpo na água da piscina. Num repente sentes apenas o peso incomensurável do teu corpo. Levantas-te e sem pensar, olhas-te ao espelho do teu quarto vazio de duas pessoas. Vês-me no fundo dos teus olhos. Percebes que ali está a tua alma. Mas não é dela que te alimentas. Olhas em redor. Tudo imaculado. Tudo nos sítios certos. Abres mecanicamente uma gaveta. Cheira a lavanda a tua roupa. E as tuas camisas caprichosamente engomadas sentem falta das minhas mãos que as desconcertam. Tu também sentes. Mas preferes o prato da balança em desequilíbrio a resvalar pela relva do teu perfeito jardim. És forte. Suficientemente forte. Depois sempre tens a fatia fresquinha do bolo à tua espera. À noite sabes que a caixa mágica do teu portátil te trará sorrisos suficientes que te façam esquecer a tua alma. Depois voltarás para a tua cama de dois. Tu com toda a certeza esconderás o teu corpo grande, quieto, do lado direito da cama. Irás fechar os olhos de um cansaço falso. Ouves uma respiração que não a minha e por instantes desejas o meu corpo pequeno enroscado ao teu. Cerras com mais força os teus olhos. E guardas-me neles, para que no dia seguinte, no mesmo espelho, possas voltar a ver a tua alma. Até um dia. Em que já lá não viverei e o prato da balança frágil se quebra, e ficarás apenas com o amar numa eterna fatia de bolo de pão-de-ló, no cheiro da tua roupa a lavanda e na perfeição das tuas camisas engomadas!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Salomé



Hoje quero-me aqui nas minhas palavras. Escrever de forma solta a calma que de forma inesperada me assalta. Como deixando deslizar os meus dedos no teclado, pensando por mim.
Hoje dei por mim balançando os meus dias. Encontrei respostas que não ouso sequer pronunciar. Revi as coincidências que me acompanham em tempos confusos, doces ou amargos.
Revi os amores que me desejaram, revi um amor que me recusou.
E parei no tempo de um corpo que me apaixonou, que me desejou e me possuiu! Simples!
E como quero esse corpo!
Senti o fio da navalha cortante e excitante. Perdi-me em leituras sem sentido, de dor e raiva. E sorri.
Hoje, não me apetecem as lágrimas, o sangue adocicado de outro. Hoje não sou Pandora ou Penélope. Quem sabe Salomé!
Um dia Salomé serei! E dançarei luxúria nos meus gestos, provocarei arrepios de desejo e querer, o meu corpo voará e provocará a vontade do toque sem me terem!
Um dia, em véus, despida do Nada, vou rodopiar num bolero lento de desejos vãos!
Um dia sussurro suspiros de donzela, na inocência de um momento falso.
Espalharei cores e perfumes!
Espalharei a cor vermelha…Sangue de Raça Pura que não cavalgou…
O meu Cabelo longo se revoltará em crina indomada
E Salomé pedirá…
E Salomé se saciará!
Até à última gota!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Deste lado de fora




Conto o tempo, conto as folhas lá fora, das janelas do meu carro, na velocidade morna. Ouço a música e não quero entender a letra. Ouço o silêncio da solidão do domingo que escolhi para mim. Não racionalizo nem reflicto. Converso com o estranho sobre a ausência de fé num Cristo amado por Madalena. Falamos do ópio de uma religião que adormece a consciência. E ele não sabe do meu ópio que me adormece da ausência da explicação concreta para o meu não esquecimento. Entro no carro, na tarde de Outono atípica, quente. Avisto o mar sem ver e cheiro a praia sem areia nos pés. Entro no sítio lotado de gente como eu, sem ser como eu. Escolho e vejo coisas femininas que um dia desapertaram a minha luxúria num corpo proibido, objecto privado de outra. Sigo o odor do perfume misturado na montra de sonhos da cidade grande, que um dia estava do outro lado do nosso mar. Nosso?! Mar do Norte. Meu, teu, gélido. E conto o tempo em números inteiros não racionais. Não vejo o futuro no fundo da chávena de café. Nem leio a sina na palma da minha mão vazia. Sorrio ao lembrar a conversa com o estranho. E o sentido da ausência de sentido para o que eu vejo e me dizem que o desenho é outro. E olho-te ao fundo do quadro pintado. E eu estou deste lado de fora. Observo com arte o movimento dos teus passos estáticos na tua vida tão perfeita. Estás repleto do toque no feminino mas despojado nos olhos verdes da tua alma. Queria pintar-te de branco. Mas conto, apenas o tempo, que não corre por dentro da minha memória, ao pormenor, do nosso passado.

sábado, 3 de setembro de 2011

Cheiro(TE)



Os meus sentidos podiam resumir-se ao cheiro. Penso com o cheiro. Toco as memórias com o odor. E aqui na minha cama de lençóis brancos, cheiro o fim do verão e cheiro o teu corpo longe e paralelo ao meu. Inalo a melancolia de uma saudade obrigatória. Não reclamo da tatuagem delineada com aroma da pele morena. Apetece-me o aroma do café desenhado na nossa chávena, reflectida com a espuma do mar de cheiro a sal. E o meu corpo reclama a minha manta alaranjada quente e suave. Embrulho as minhas pernas nuas e descanso na solidão, do meu gato preto, que ronrona a minha quietude estranha! Quase adormeço na melodia da língua doce que me encanta o passado, aconchegada num tu de memórias de todos os odores que me embriagam, inebriam, me tolhem a razão e me hidratam o corpo quase desnudo. Os cheiros! Odores! Sempre eles! E se eles não existissem?! Seria um corpo desalmado, despido de vida, despido de mim!


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Vénus?!



Começou o dia no capricho da maquilhagem. Desenhou, a passos milimétricos, o risco sombra nos seus olhos verdes que falavam a cor verde do frio matinal de uma manhã de Agosto! Tem sido frio este Agosto! Escovou o cabelo longo, agora mais escuro de um violeta muito amor-imperfeito. A maquilhagem estava de facto perfeita! Sem encontro marcado, sem espera sedutora, sem magia ou imaginação. Vestiu-se simples, mostrando apenas um fio de seda em cruz, que despertava o seu decote para o feminino. Ela é o feminino! No balançar do seu andar de saltos altos, no verniz das unhas que evitam, quando querem, a sua assinatura na pele de um homem, no anel sem compromisso selado. Cheira a feminino, toca o corpo em rendas indecorosas. Podia até ter o nome de Maria e ser a mulher impura e desejável em qualquer cama de nomes que a esperam. Ela é a mulher, a fêmea, a outra da vontade incontida, a mãe dos caprichos doces dos filhos, a esposa de um caminho de flores sem odor e de incenso de aroma incompleto. É tanta coisa no feminino e é assim que ama aquele homem, no feminino! Com paixão, entrega, exclusividade! Depois parou! Abriu o saco cheio de coisas de mulher, a confusão feminina! O gloss e a caneta preta, a chave do carro perdida bem à frente dos seus olhos, papéis soltos sem importância e nomes femininos espalhados, palavras insinuantes de exclusividade de um deus, sedução gratuita de olhares sem significado. Um jogo de dados num tabuleiro de damas, e um rei, que faz xeque-mate, em cada partida, num deserto, cheio, abundante, de véus multicolores que ele vai desvelando, irreverente e inconsequente! E naquele repente de um saco de mulher desordenado de emoções, olhou-se no pequeno espelho por ali perdido, e viu o seu olhar, delineado ao pormenor, de uma frieza racional, objectiva e pragmática, a viajar longe do seu lugar de Vénus e sentar-se confortável e fácil, num singular masculino de Marte!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Morrer de amar...



O lenço de cor de areia, acetinado, deslizou no peito dela. Embalado num aperto de angústia que lhe fazia doer a alma. Sentiu uma calma gélida. Olhou a noite fria, de um Agosto inquietante e o ardor na pele do sol da tarde, cristalizou-se num sentimento contraditório, sem nome, sem essência, sem compreensão racional possível! Retomou um passado, longe. Viu o seu rosto num espelho que não o seu. Significados entre linhas de uma sedução de um mar que já não tem a sua areia. O vento Norte ainda lhe traz a mesma maresia. O seu cabelo ainda é salgado, e a estrela branca cheira ao oceano que os levava em sonho, além do horizonte.
Mas já não é ela o véu que ele quer desvendar, o vestido que ele quer despir, o desejo a ser consumido numa tentação perigosa, demasiado perigosa. Ela é doce! Tornou-se doce no corpo dele. E perdeu-se da ferocidade de fêmea que ele ainda procura, numa insatisfação indeterminável, sempre insuficiente…sempre dolorosa para ela!
Despe-se e entra num banho de cheiros suaves que aquietam a dor no seu peito. Preferia chorar como das outras vezes, preferia salgar os lábios, na tentativa de procurar o impulso de bicho que ele prefere. Desistiu! Fechou a caixa de Pandora, fechou a vontade insaciada do segredo. Guardou o pecado tentador de uma Eva em luxúria e vestiu de negro a dança carmim de Salomé. O amor bate-lhe no peito num ritmo desconcertante, incerto, em ferida!
Respira devagar, com dificuldade. Respira num tem que ser imposto pela vida. Não quer morrer de amor, mas sente moribundo o uso do verbo amar, na pele e na alma!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sabor a tâmara



Cheira a quente!
Ela roça o sussurro da sua saia branca, debruada em fios dourados, missangas, de cores alaranjadas. Deixa o cabelo solto, escondido numa seda transparente, que lhe ensombra, de leve, os ombros morenos. O peito pequeno, solto, da blusa entreaberta, decorada de colares em madre pérola. Cheira a quente o quarto onde ele a espera! Quieto, na sua nudez de homem proibido e desejado numa luxúria delirante. Escasso o tempo, no sol abrasador de areia deserta. Ouve-se ao longe um dialecto estranho, de uma língua dobrada, quase bárbara. Escassa o tempo que cheira a sândalo. A porta fecha-se em silêncio. O branco da sua saia despe-se nas mãos dele, procura sedento a sua boca de licor adamascado. Embriaga-se no perfume doce. Não diz qualquer palavra. A língua dos dois enrola-se. Ela sente o sabor a tâmara. Fresca, a saliva que sacia a sede. Embrenha-se na pele morena e febril dele. Acetinados os seios dela, perdidos entre dedos que a mordiscam discretamente. Sedutora e frágil, enleva-se então no colo dele, sintoniza os movimentos no mesmo ritmo dos sons em tule, que se ouvem no odor a cálido. Os colares de madre pérola soltam-se em contas perdidas no peito dele, enquanto ele olha o seu rosto feminino, afastando o cabelo solto de uma boca carmim, de lábios trincados num prazer subtil e secreto. Só os olhos verdes de ambos se falam, se sorriem. Cúmplices nesse tempo distante da geografia que os uniu nesse dia. Ondula o corpo pequeno, naquele corpo de homem grande e seu. Naquele momento, seu! Serpente dócil, deslizante, sibilina e amante.
O dialecto bárbaro continua ali próximo. Demasiado próximo! E é no silêncio igual aos sussurros das missangas, que ambos se deleitam e explodem em mel Adocicado e molhado. Depois ela repousa. Feliz e exausta. Tatuada na alma do homem proibido de sabor a tâmara e pincelado de cheiro a quente.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Em cinzento



O mar hoje estava cinzento. Chegou ao fim da tarde. É o inverso de outros rostos. Eles chegam, ela parte. Eles partem, ela chega. Sempre o lado contrário do caminho. Da fila que se move. Ela da fila quieta. O café cheio de vozes, o seu silêncio no quarto. Os seus passos que entoam na escada, o café vazio e as chávenas marcadas de cafeína sem força. Por isso, hoje, em Leça, o mar estava cinzento! Raramente viu a espuma branca enrolada na areia. E o bolo de laranja humedecia a sua boca, de um trago de saudade de outro sabor. A flor desenhada de chocolate na chávena transparente, seria a miragem de desenhos na mesma areia, feita com a ponta dos seus dedos. Ou seriam outros os desenhos, de outros dedos? E sentiu um cansaço do contrário. Do vestido justo, de cor indefinida, do cabelo castanho avelã e dos olhos cor de esperança que a traíam, pelo cansaço do contrário. E observava pelo vidro meticulosamente lavado, o seu rosto bonitinho e vazio. Queria ser aquela mulher ali, de sorriso aberto, pé quase descalço na chinela cor-de-rosa, corpo arredondado sem vestido justo. Queria ser a outra mais além, mão dada sem medo, cabelo em desalinho e os sonhos dentro do saco cheio de areia, mas ainda com espaço para acreditar. Acreditar na mão dada sem medo! Queria ser aquela mãe ali mesmo. A lancheira azul, os filhos desembrulhados do guarda-sol, o seu homem descontraído de cigarro semi acabado, antes da porta do carro fechar, com a algazarra de família feliz dentro dele. Mas hoje o mar em Leça estava cinzento. O seu vestido tinha cor indefinida. O rosa estava no pé descalço daquela chinela, o azul na lancheira da outra mãe, o arco-íris no saco com espaço para acreditar, do casal de mão dada sem medo. E se a cor do mar de Leça, hoje, tocava e se confundia na linha do horizonte, algures na montanha distante, todas aquelas cores são o seu contrário! A fila que se move. E ela, na fila, quieta!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Quanto custa o Amor?



Quanto custa o Amor?! Pensava ela que era gratuito! Não se comprava nem se vendia. Nem sequer se dava! Amava-se e pronto! Não havia nem cara nem coroa. Não havia moeda de troca. Trocavam-se gratuitamente os dois! Trocavam sons de roupas despidas, trocavam a pele molhada no mesmo banho, moldavam-se dois num só lençol branco! Não custava nada! Ela encaixava-se no colo dele no banco do carro, cabia perfeitamente no seu abraço! As mãos de tamanhos diferentes davam-se no mesmo molde e a sintonia da música dos dois eram tão perfeita, que o mar se calava emudecido de tesão! Quanto custa o Amor?
Olhou-se na sombra e então percebeu! Abriu a palma da mão e viu a moeda! Incompleta!
Gritou desesperada: - cara ou coroa!
Só um rosto! O seu! Do outro lado, vazia a moeda! Sem coroa! Fugida algures nas coroas das rainhas flores! Por isso impossível pagar o custo do Amor! Imperfeita como a moeda na palma da sua mão! Não chegava o mesmo lençol branco, nem a água tépida do mesmo banho, nem o som das roupas despidas nem sequer o silêncio do mar emudecido de tesão dos dois!
Quanto custa o Amor?
Um preço inqualificável na desventura da verdade, que uma moeda incompleta e imperfeita jamais poderá suportar!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Azul saudade...



Chegou a casa mais cedo. Aliás, chegou a casa, na nova hora, do cedo que lhe foi imposto!
Abriu o portão, menos mecânico, do que a sua vontade de entrar! O sol de Agosto pousava ao longe, perto de um mar perdido. Tinha o calor de um início de Outubro e o jardim cheirava a relva ceifada e a sebes agrestes, daquelas que fecham o seu mundo doméstico, de uma perfeição simbólica de alianças já sem brilho, baças e demasiado apertadas nos dedos. Irreflectidas pelo hábito! Entrou no quarto da cama grande. O edredão imaculado branco, a janela aberta de estores corridos, mais corridos do que as horas lentas que o esperavam. Na mesa, na varanda e novamente na cama! Despiu, apático a camisa azul, por amarrotar! Fazia tempo que não sentia as mãos atrevidas e apressadas nos seus botões pequenos, que se abriam com desejo! Em câmara lenta deixou-a cair na cama! A vida em câmara lenta, como quem degusta um vinho encorpado pelo tempo, um vinho raro, impossível, aos demais banais de o beberem! É assim! Uma vida de preço encorpado, demasiado alto e raro! Que o embriaga e o desvia da realidade normal, de quem ama, em primeiro lugar, na lista de prioridades!
A mesa, logo a seguir! A porcelana! Inquebrável! Mesmo quando se estilhaça o peito! A excelência gourmet! Os sabores inigualáveis! Mas tão comuns nos gestos! Vulgares! O trivial escolhido ou imposto!
Olhou-a! O cabelo loiro, preso! O rosto opaco, o olhar sem brilho! Os jeans de sempre, a t-shirt caseira! A ausência feminina do vestido leve, do cabelo solto pelos ombros, do sorriso simples!
Olha-a outra vez! Olha sem a ver! Perdeu o seu rasto, recua no tempo e não sabe quando! E o preço é demasiado alto! O jantar falado num diálogo, encurralado numa Torre de Babel! Encurralado pela imagem perfeita, do marido perfeito, que ela cultiva, perdida entre os amores-perfeitos do seu jardim intocável, impermeável a outros olhares!
E a noite, que ele teme! A cama grande, o edredão puro, enrolado, ao fundo!
O toque que ele não quer sentir, o cheiro que ele não reconhece, o peito que não cabe nas suas mãos! O corpo que não se molda ao seu!
E o preço…outra vez o preço! E ele vende-se, na escuridão da luz de presença, que o esmaga por dentro, em fragmentos sem odor!
O cheque sem assinatura, no seu corpo, sem entrega!
E a camisa azul, espera, na saudade de duas mãos, livres, que a amarrotem no desalinho do desejo!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Se ficares no meu passado



O que apetecia mesmo?! Tantos verbos cheios de movimento, em infinito imperativo, que não existem. Verbos! Que definem o indefinível que mexe, magoa, recorda, esmaga. Verbos como: rasgar, partir, quebrar, mudar, gritar, questionar, esquecer, limpar, seguir! Hoje ela saiu! A praia, que costuma ser deserta, apenas cheia dos dois, salpicava-se de gente. Feliz! O som do mar faiscava no som das vozes de miúdos e gente grande que preguiçavam na areia. Quase cinco da tarde, numa tarde de Domingo quieto. Mudos os desenhos que ela riscava com a colher na espuma do café, um desenho de letras escritas com paciência! Mudos os casais, das mesas vermelhas de plástico, com ar moreno. Como se pertencessem à paisagem do verão normal, de um Julho atípico. Vazia a cadeira, também vermelha, onde ela pousava o saco leve de palavras e sinais. Um domingo típico, quente, de um Julho atípico, para ela, portanto! Invejou, breve, qualquer casal das mesas vermelhas! Sem sacos vazios de palavras. Casais de dois! Efectivamente dois! Mordiscava, lenta, o seu coração preto, que se prendia a um fio de cetim no seu peito. E ela cansa-se de entender o trivial. Cansa-se de ficar no passado que persiste em ser presente. E questiona o lugar, como se aquela cadeira ali ao lado, lhe respondesse às frases que não ouvirá, lhe mostrasse as sombras das mãos que estão longe, do sorriso que sorri, algures, na face de uma não amada, com a legitimidade, do futuro que ela não tem! Mas o futuro não existe! Disse-lhe uma vez um amigo. Por isso ela limpa as imagens do Domingo. Sacode o sol da pele, pousa o coração inanimado no peito e pensa apenas na hora seguinte, que espera que passe rápido, como todas as outras, como se esperasse algo diferente, depois, no dia seguinte! Raramente sai aos Domingos.
Raramente se mistura com muita gente, mas também era-lhe indiferente a quantidade de rostos abstractos e iguais, espelhados, agora, nas montras convidativas, passos mais ou menos em valsa, e os olhares semi perdidos no desejo de ser similar aos manequins, elegantes, formatados, amorfos, sem emoção, mas também sem dor! A saia era branca, desigual! Com flores de cores desiguais. Vestiu. Moldava-se a sua forma curvilínea que ele gosta de tatear. Pensou apenas nele! Podia imaginar os seus dedos a bordar a sua pele, primeiro no tecido leve, depois na sua pele suave. Ele sorriu-lhe do outro lado do espelho. Desiguais os dois, logo ele iria gostar. Mas, quando a noite chega e a saia está despida ainda na sacola de papel, são os verbos de um infinito imperativo que a vestem. E o coração que ainda se prende no peito, tenta-se a gritar emudecido para dentro, enquanto ela rasga, quebra, questiona, mas não muda, não parte, não limpa e muito menos esquece, o olhar que se destacava e o monopoliza no meio da multidão numa noite cheia, parecida, com esta! E de todos esses verbos, um deles marca o lugar na cadeira vazia! O verbo SER, na interrogativa, dentro do peito dele, algures!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A outra



A outra! Determinante demonstrativo! Determina a demonstração do afecto gratuito. Abraços, colo, riso, sorrisos, silêncios de mãos dadas. Sonhos, além-mar! Reais, naquela praia! Apenas!
Odores e pele misturada. Gemidos, na mesma linguagem de dois corpos. Encaixe. Saudade. Espera. Entrega!
Segredo e cúmplice de duas vidas!
Coragem! E coragem, novamente!
Lágrimas e troca! Borboleta quieta por detrás da janela, do lado de fora do jardim perfeito. Melodias, músicas, poemas! Palavras esculpidas. Atiradas, pinceladas, no mar, na espuma, na areia! Grito mudo, aqui dentro. Grito chorado, transparente. A outra! Numa lista de coisas de outras coisas!
Primeiro o jardim, segundo, o sumo de laranja e a torrada, pousada no prato de porcelana. Em terceiro, a camisa engomada e o cheiro a lavanda! Em quarto, um quarto de apenas meio quarto de desejo e de pele!
E a outra, determinante demonstrativo do acessório, dispensável na hierarquia do apenas bem parecer!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Aconchega-a...de vez em quando!



Contei quase todas as horas esta madrugada. Espalhei o meu cabelo, agora ondulado, no lugar vazio, branco, matizado apenas pelo odor da minha pele sem sinais teus.
E quando quase adormecia, acordavam-me as gaivotas, que insistem em estar ali, longe do mar. Cheirava a terra queimada, vinha de lá de fora o cheiro a quente, de um fogo que já não é gélido. A varanda continua paralela à linha do teu horizonte. Tu continuas paralelo à linha da minha vida. Só sei que não sais aqui de dentro. Disseram-me as cartas! Era inevitável que aparecesses por aqui, neste lugar meu. E porque não pode haver coincidências, permaneces nele. Ficarás nele. Creio que é isto, que se chama entregar a alma. Entreguei-te a minha. Já não tenho mais nenhuma para poder entregar, dar, enfim, presentear, a um outro. Um qualquer! Indefinido!
Inquieta-me onde a colocaste. Onde a guardaste. Em que vida tua?! Não gostaria de a saber por ai! Gosto do aconchego. Onde a defines? Onde está? Cuidas dela, de vez em quando?!
Escasseia o teu tempo! É o peso da instituição da tua assinatura em papel timbrado, religiosamente obedecido, com cheiro a flores, num altar, algures endeusado, perto de uma virgem plena de convenções sem emoção e toque sentido.
E o nome! O teu nome pronunciado na Vila, por nomes de rostos abstractos, alheios à tua própria alma! O teu nome convencional! Não o nome que te dei e que tatuei a tinta permanente, aqui na pele que te absorveu, inteira.
A minha alma é leve! As tuas convenções de um peso incomensurável! Em desequilíbrio, portanto, numa das tuas vidas! Onde a colocaste? Dentro da tua? Ou do lado de fora do teu outro nome?!
Basta que a aconchegues. De vez em quando!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Estrela-do -mar



Era um veleiro que ondulava suave ao ritmo da maré cúmplice. As velas eram asas de gaivota livre, perdidamente livre. E o vento Norte mantinha-se calmo na linha curva do horizonte alaranjado.
Amavam-se ali. Ou seria algo semelhante ao verbo amar! Ela não sabe muito bem. Lembra-se apenas, como se «apenas» fosse a eternidade, que se despia sem pudor! E ele cobria-a com cheiro a maresia e pintava-a com os sinais quentes da sua pele morena. Lembra-se que confundiam gemidos com os gemidos desse veleiro que rompia impetuoso, as ondas esbranquiçadas do verde-mar. Lembra-se do seu peito pequeno e nu, escondido do sol, protegido como pérolas em conchas doces e fortes, nas mãos dele, enquanto a segurava, na escalada exímia, pelo seu corpo grande de homem. Ele olhava-a. Encaixada em si. Fechava então os olhos num suplício de luxúria. E dançavam, ondulavam, tatuavam-se. Fundiam-se. Esculpiam-se da mesma matéria!
Lembra-se do depois! Quando o sol descia até ao sal e ele sossegava no seu abraço enlaçado.
A bússola apontava o sul. Ambos esqueciam o Norte. As velas descidas em silêncio, as gaivotas descansadas na areia. E sonhavam-se, os dois, além-mar!
Um dia adormeceram no desnorte! O vento soprou forte, o mar revolveu-se, transformou-se em cinza de pranto. Rasgaram-se as velas e voaram para longe as gaivotas assustadas. O pranto do mar encheu, de um sorvo só, o veleiro desgarrado. Não de água salgada nem de areia fina, nem de búzios ou estrelas. Mas de flores de todas as cores! E eram tantos os amores-imperfeitos, e as rosas de vermelho sangue, os morangos agrestes e os malmequeres pérfidos. E ela sufocava, e o respirar doía!
Olhou-o uma última vez. Perdido no jardim perfeito que inundava a maresia de ambos. Soltava as velas rasgadas, limpava e sacudia a areia, devolvia os búzios e as estrelas-do-mar, desfazia o sal da sua pele. Depois, devolveu-a ao mar de corpo e alma, embrulhada no sonho de o esperar. O veleiro partiu com ele. Repleto de flores de sementes amorfas, as gaivotas transformadas em mariposas tristes e estéreis. E o mar dissolveu-se num rio parado, turvo e falso.
Diz-se que o veleiro se transformou num girassol enorme. Diz-se que apenas enfrenta o sol ao fim do dia, quando os vizinhos recolhem a casa. Diz-se que o seu jardim não cheira a rosas mas a maresia.
Diz-se que guardou uma estrela-do-mar, branca e pequena, em segredo, numa caixinha de coral de madeira, que lhe sussurra sorrisos, quando a saudade aperta a sua alma, junto à margem do seu rio turvo!
Diz-se!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Vácuo...



Trocou o mar pela serra. Sozinha, sem o estar, ao fim da tarde, numa caminhada entre cardos, hortelã e toda a miscelânea de verde que não reconhece.
E o turbilhão de sentimentos de cores tão diferentes. O lilás, o branco, e o cinza. Este último que paralisa a vontade de decidir, de pensar, de seguir caminho. Este aqui, da cor da mochil...a que carrega o peso da pedra que teima em levar até ao cimo da montanha!
E o sol do outro lado, perto do seu mar que hoje perdeu o sal, a espuma e deve estar revolto, desgarrado, perdido, sem saber qual das sete ondas molhará de novo os dois!
E o amor impossível que não acontece, e que se ouve falar, em surdina, nas vozes de pessoas alheias ao sentir. E não há amores impossíveis, pensa ela! Das duas uma, ou se ama e se torna o amor possível, ou então tudo se contundiu e não era amor!
E não se fala do amor e de uma cabana. E não se lê uma história de uma princesa e fadas que trazem um príncipe belo, que a acorda de um longo sono, para a felicidade. Não é o enredo de uma novela de um canal qualquer da TV! ´
É quase o amor, sem o ser! É uma indefinição rodeada de coisas. Coisas! Casas, flores, sumo de laranja, salmão grelhado, um hotel exótico, uma camisa engomada a preceito. É um nome num sítio, gente conhecida, é o exemplo! São coisas! Que impedem de quantificar o sentimento que se guarda dentro do peito. São coisas demasiado importantes para tirar da mochila! O amor não cabe dentro dela! Nem na bolsinha de fora, que tem um zipper minúsculo! Quando muito aquele canivete suíço pequeno, de funções variadas, que cabia no bolso dos jeans, tal como ela cabia na palma da sua mão! Logo, não é o amor que cabe na mochila! Quando muito a imagem que se tem dele!
E é a revolta, e a angústia silenciosa, e o medo. As memórias. A perda. O tudo e o nada! O olhar o tempo parado. O diálogo mudo de sentido na mensagem que ele passa. O monólogo da solidão, a espera dela. A ausência ocupada dele, em justificações contraditórias ao seu sentir. O vácuo, na falta de coragem do virar a mesa num jogo limpo! As cartas de um baralho sem trunfos!
E ou se ama e é possível, ou não se ama e não é possível! O princípio lógico do terceiro excluído, sem meio-termo, sem hipóteses, sem aspas, sem talvez!

Sentido Obrigatório



Vem comigo. Escolhi o meu vestido mais leve, aquele tal, da imensidão do branco, aquele tal que despias devagar e o trocavas pela minha pele, dourada pelo sol. Vem! Ondulei o meu cabelo, com a espuma do mesmo mar que te adoçava em bruma de banho salgado. Anda rápido. Porque a música com que eu escalava o teu corpo, quase adormece na rádio, e dormentes, tenho eu os meus lábios, do gosto que tu gostavas de provar. O meu perfume ainda é o mesmo, lacre puro, no colar, que meigo e ágil, colocaste, pendente no meu peito. Como pendente ficou o teu odor, no enredo entre o dourado prateado das cores que compõem o nosso pronome. Vem, sem demoras! Esse teu silêncio de palavras que não são para mim, cansam-te o rosto e o riso, e, o nosso sítio tem a mesa vazia, com duas chávenas do mesmo café de chocolate. Aquela mesma, lembras-te? Colada à janela que parava o mundo lá fora e abria o horizonte de sonhos rasgados na linha do mar. As pessoas conhecidas perguntam-me por ti com os olhos, e eu respondo que estás quase, mesmo quase a chegar! Vem comigo! Mas ele não foi! Fechou os olhos e viu o vestido dela, branco e despido, sonhou o cheiro dela, enredado no seu. Sorriu no brilho do colar pendente no seu peito. Respirou de um só trago a maresia escondida no cabelo ondulado dela, saboreou o café de chocolate nos lábios do gosto que ele gostava. Fechou os olhos e imaginou a janela de sonhos na linha do horizonte. Acordou, na voz que lhe apontava um outro caminho. Fechou o sorriso e o riso. Olhou as suas mãos vazias e cheias de coisas, viu a sua alma em pena perpétua, presa, a um outro alguém, sem sabor e sem cheiro. Sem chave, que abrisse as amarras da sua escolha obrigatória, dessas coisas que lhe esvaziam o ser!

Condicional



Não sei as horas que nos separam. Não medi a distância da linha do horizonte, aqui atrás da desta serra que me envolve. Sei que estás além dessa linha, num cansaço de nomes que por vezes te calam a voz e envolvem de silêncio os teus olhos. Se eu passasse a ponte ficaria bem perto de ti. Mas a estrada puxa-me para o mar que fica na foz do teu rio calmo.

Sabes, hoje olhei essa linha. Estava mesmo junto ao meu jardim ainda por florir com flores requintadas. É imperfeito o meu jardim. Não tem rosas, nem amores-perfeitos. Pensei em ti. Misturamos sempre tantos sabores e odores. Sorri na desordem de flores amarelas sem nome. Colhi uma mão cheia delas e percebi o cheiro a hortelã que as salpicava. A minha casa hoje tem flores do campo em desordem com folhas de hortelã. Assim como as da tua montanha. Aproveitei antes do meu jardim se tornar no meu mundo doméstico de uma mesma perfeição igual à tua.

Quase esquecia de te dizer, neste enlevo que te lembra, que mudei de perfume. Não mudei nem a pele nem a cor dos meus olhos. Por isso acredito que me sintas, mesmo com um perfume diferente, envolvendo o meu corpo, moldado ainda pelas tuas mãos. E sei que o verde dos nossos olhos se mistura ainda, pelo desejo dos nossos dedos, que desenham os mesmos gestos nos mesmos lençóis. Misturaste-te com o meu odor. E aqui, na minha cama vazia e sem espaço livre para qualquer outro corpo, ainda te cheiro, no movimento do meu cabelo meticulosamente liso.

Sabes, este silêncio trazido nas tuas últimas palavras sabem a sal, sem a doçura do teu toque meigo doce. Porque o teu corpo é um rio, e o rio é doce, e sempre se encontrou em mim, salgada. Por isso éramos a mistura perfeita. A miscelânea de sentidos, consentida numa emoção quase racional. E eu não sei ainda escrever palavras no pretérito passado. Talvez porque nunca as tivéssemos escrito no futuro. Nem num futuro próximo, sequer! E este presente soa a incompleto e o meu coração ainda não «fechou a porta», e tu não ensurdeces o ruído da minha saudade.

E bastava apenas que eu atravessasse a ponte. Mudasse a estrada de cheiro a mar, e escalasse a tua montanha, como eu fazia pelo teu corpo, e tu deixavas, numa quietude límpida, pura e grande como tu!

Perfeição!



Poderia sim, continuar a amar-te no silêncio proibido. Poderia ser o outro lado da balança que te equilibra no sorriso, no sexo, no riso, no teu eu que só sabe ser comigo. Poderia ser isso tudo. Hoje, amanhã. Na próxima semana e no mês onde o calor torna os corpos sedentos de areia. Depois calcarias comigo as folhas primeiras do Outono. As minhas cores favoritas que tu sabes que me caem bem. Pegarias na minha mão e brincarias com os meus dedos. Puxavas-me de encontro ao teu peito, onde me aninharia quieta. Poderia ser tua sempre. Trocaríamos presentes em Dezembro. O meu caberia no teu bolso. Assim como cabe o meu coração no teu peito. E tu és o equilibrista perfeito enquanto abres a porta do teu mundo perfeito como tu. Um dia questiono-me. Pergunto-te se estou bem sentada ao teu lado nesse equilíbrio frágil da tua balança. Dizes que sim. Mas eu mexo-me mais um pouco. Caio. Saio do virtual da tua perfeição. Regresso ao meu real quotidiano, imperfeito. As minhas mãos estão ásperas. O meu vestido guardado. Volto a olhar para mim. A minha vida de horas certas e mesmas.

Agarras-me? Não. Não podes. Mesmo em desequilíbrio de vidas tuas. Deixas o riso, pesas de novo o teu eu incompleto, sorris apenas. O teu outro lado da balança é raso. Resvala. Toca na relva perfeita do teu jardim perfeito. O sexo será apenas sexo. Sem dedos nem alma quieta no teu colo. Chamam-te para um lanche apetecível, de uma fatia de bolo numa tarde chuvosa de Páscoa. Sentas-te, normalmente no teu sofá confortável. Talvez seja essa a definição mais próxima de amar: amar é saber como agradar o outro com uma simples fatia de pão-de-ló!

Olhas pelas vidraças e bocejas aborrecido porque a chuva te impede de molhar o teu corpo na água da piscina. Num repente sentes apenas o peso incomensurável do teu corpo. Levantas-te e sem pensar, olhas-te ao espelho do teu quarto vazio de duas pessoas. Vês-me no fundo dos teus olhos. Percebes que ali está a tua alma. Mas não é dela que te alimentas. Olhas em redor. Tudo imaculado. Tudo nos sítios certos. Abres mecanicamente uma gaveta. Cheira a lavanda a tua roupa. E as tuas camisas caprichosamente engomadas sentem falta das minhas mãos que as desconcertam. Tu também sentes. Mas preferes o prato da balança em desequilíbrio a resvalar pela relva do teu perfeito jardim. És forte. Suficientemente forte. Depois sempre tens a fatia fresquinha do bolo à tua espera. À noite sabes que a caixa mágica do teu portátil te trará sorrisos suficientes que te façam esquecer a tua alma. Depois voltarás para a tua cama de dois. Tu com toda a certeza esconderás o teu corpo grande, quieto, do lado direito da cama. Irás fechar os olhos de um cansaço falso. Ouves uma respiração que não a minha e por instantes desejas o meu corpo pequeno enroscado ao teu. Cerras com mais força os teus olhos. E guardas-me neles, para que no dia seguinte, no mesmo espelho, possas voltar a ver a tua alma. Até um dia. Em que já lá não viverei e o prato da balança frágil se quebra, e ficarás apenas com o amar numa eterna fatia de bolo de pão-de-ló, no cheiro da tua roupa a lavanda e na perfeição das tuas camisas engomadas!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Talisca




Hoje deixo-te aqui. Fica quieto. Descansa. Sim, hoje está sol, mas não sei se queima. Importa isso? Hoje levo só o meu corpo. Deixo uma talisca aberta. Pode ser da porta escondida do lado de lá do meu jardim, e pelo sim pelo não, a chave fica junto às folhas de hortelã. Pode precisar. Quem sabe ele não passa por aqui. É que o mundo dá muitas voltas, diz o povo e povo por vezes é sábio. Vou escolher-me vestir qualquer coisa leve. Impossível não lembrar do que ele gosta, não precisas dar palpites, aliás hoje o teu palpite é de calmaria e ficar por aqui. Por isso eu escolho. Não sussurres. O vestido? Sim pode ser esse. Suave. Ele diz que os meus vestidos são suaves como o meu tamanho! Preciso de um trato na minha pele. Hidratar das lembranças de outros dedos. Hoje fico pelo creme, sozinho, sem cheiro de mel. E tu continuas a palpitar e pergunto-te porque és tão impaciente. Não te apoquentes. O cabelo nos meus ombros esconde o vazio de tu não estares. Ninguém sabe disso. Pronto! Os meus olhos?! Sim, são o teu reflexo, mas vou prepara-los. Sabes que sou exímia nessas coisas. E o verde também trai, sabes isso! Também trai os meus sentimentos, logo, difícil, alguém perceber que este brilho é único e exclusivamente uma pincelada estética! Esse teu suspiro é inútil. Disseste que estavas fechado para balanço. Pois então! Balança na sombra. Também é bom um instante só para ti. Sem azáfama dos sentidos, sem odores que aceleram as tuas batidas, sem os olhos te encherem de lugares de saudade, sem pedires aos meus dedos que toquem o inatingível. Bom para ti acalmar o ritmo da memória. Eu volto logo. Sei que estarás igual. Quieto e só. Voltas para dentro de mim, quando eu despir o meu vestido, a noite me roubar o sol e a chave permanecer junto às hortelãs. A talisca? Essa poderá ficar. Quem sabe o povo não tem razão!