quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sentido Obrigatório



Vem comigo. Escolhi o meu vestido mais leve, aquele tal, da imensidão do branco, aquele tal que despias devagar e o trocavas pela minha pele, dourada pelo sol. Vem! Ondulei o meu cabelo, com a espuma do mesmo mar que te adoçava em bruma de banho salgado. Anda rápido. Porque a música com que eu escalava o teu corpo, quase adormece na rádio, e dormentes, tenho eu os meus lábios, do gosto que tu gostavas de provar. O meu perfume ainda é o mesmo, lacre puro, no colar, que meigo e ágil, colocaste, pendente no meu peito. Como pendente ficou o teu odor, no enredo entre o dourado prateado das cores que compõem o nosso pronome. Vem, sem demoras! Esse teu silêncio de palavras que não são para mim, cansam-te o rosto e o riso, e, o nosso sítio tem a mesa vazia, com duas chávenas do mesmo café de chocolate. Aquela mesma, lembras-te? Colada à janela que parava o mundo lá fora e abria o horizonte de sonhos rasgados na linha do mar. As pessoas conhecidas perguntam-me por ti com os olhos, e eu respondo que estás quase, mesmo quase a chegar! Vem comigo! Mas ele não foi! Fechou os olhos e viu o vestido dela, branco e despido, sonhou o cheiro dela, enredado no seu. Sorriu no brilho do colar pendente no seu peito. Respirou de um só trago a maresia escondida no cabelo ondulado dela, saboreou o café de chocolate nos lábios do gosto que ele gostava. Fechou os olhos e imaginou a janela de sonhos na linha do horizonte. Acordou, na voz que lhe apontava um outro caminho. Fechou o sorriso e o riso. Olhou as suas mãos vazias e cheias de coisas, viu a sua alma em pena perpétua, presa, a um outro alguém, sem sabor e sem cheiro. Sem chave, que abrisse as amarras da sua escolha obrigatória, dessas coisas que lhe esvaziam o ser!

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