quarta-feira, 13 de junho de 2012

Ponto e vírgula

Ele acha que «era uma vez». Uma história imaginária com ponto final feliz em rosa. Ela explicou-lhe, sem justificações, que há uma vírgula entre o ponto e o final. Um nó que não pode ser cego. Mas apenas um ponto com um nó que magoa os pulsos e cala em silêncios as palavras que costumam brotar num rosário profano. Ele não sabe porquê. E indetermina a conjugação verbal. Uma linha de cada vez, no seu ego masculino que descomplica, naturalmente, as histórias de uma Terra do Nunca. Ela acha surreal. E muda de parágrafo. Segue insegura por linhas incertas e momentos há que o impossível toma conta da sua alma. Mas muda de parágrafo. Apenas! E apenas é uma palavra minúscula de um tamanho enorme, que deixa em aberto o capítulo final de uma página em branco, deixada solta, entre o meio, de um romance escrito, a tinta permanente mas ainda digitalizado, e apenas, outra vez, na pele dos dois!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Efeitos...

Isto é mais ou menos assim. Toma-se um banho pela manhã. Depois sem pressa, porque é domingo, o corpo senta-se na cama ainda com os lençóis enrolados e amacia-se de um creme que hidrata os poros como se vaporizasse a alma e a deixasse respirar pela pele mimada. Não vale a pena olhar a mensagem que não chega. Porque é domingo. Por isso apenas se sorri pela memória recente de uma noite surreal. Não faz mal ser domingo. A semana só começa depois! Pensa-se outra vez no corpo que foi deixado por segundos. O creme, em pequenos movimentos, perfuma devagar o quarto quente, que deixa entrar o sol, aquele tal, que começa atrás da serra. Olha-se os vestidos mas opta-se por uns jeans bem práticos. Não se dispensa o top azul com pequeno brilho de olhos nem as sandálias pretas, bem altas, que transformam os jeans num corpo apetecível. O cabelo indomável e maquilhagem, hoje, suficientemente, suave. Mas o cabelo, esse será sempre indomável e longo, a cobrir as costas nuas! Olha-se e vê-se bonita. Depois é o sair para a rua. O café e o livro. E desta vez a história que não terminou mesmo nada bem. E finge que não vê os olhares que talvez, apenas talvez, gostariam de ser as letras do livro dela ou a chávena branca do café quente. E depois, porque continua a ser domingo, o almoço em família grande. Os risos. A mesa comprida. As conversas cruzadas. A política. A vizinha do lado. A Selecção! E os filhos e as sobremesas partilhadas. Quase tudo calmo. Quase tudo de uma normalidade que nunca saiu do lugar. E a família, que quase substitui a toalha branca da mesa por aquela em tons verde esperança. Esperança da calma normal. Outra vez! E olha-se as horas e espera-se o começo da semana. E num quase findar de dia, quando os minutos resvalam para a madrugada, a rapariga bonita aparece no ecran de moldura de sonhos e imaginação real. De curvas perfeitas. Do decote que convida e chama, da idade que ainda não se conta. Da cor de cabelo tão diferente do dela! E é tudo tão diferente! E ainda é domingo! E os jeans deixaram naquele momento de combinar com as sandálias pretas de salto alto, o cabelo deixou de vestir as costas nuas, e ela recusa-se a olhar para o espelho, outra vez!