quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Morrer de amar...



O lenço de cor de areia, acetinado, deslizou no peito dela. Embalado num aperto de angústia que lhe fazia doer a alma. Sentiu uma calma gélida. Olhou a noite fria, de um Agosto inquietante e o ardor na pele do sol da tarde, cristalizou-se num sentimento contraditório, sem nome, sem essência, sem compreensão racional possível! Retomou um passado, longe. Viu o seu rosto num espelho que não o seu. Significados entre linhas de uma sedução de um mar que já não tem a sua areia. O vento Norte ainda lhe traz a mesma maresia. O seu cabelo ainda é salgado, e a estrela branca cheira ao oceano que os levava em sonho, além do horizonte.
Mas já não é ela o véu que ele quer desvendar, o vestido que ele quer despir, o desejo a ser consumido numa tentação perigosa, demasiado perigosa. Ela é doce! Tornou-se doce no corpo dele. E perdeu-se da ferocidade de fêmea que ele ainda procura, numa insatisfação indeterminável, sempre insuficiente…sempre dolorosa para ela!
Despe-se e entra num banho de cheiros suaves que aquietam a dor no seu peito. Preferia chorar como das outras vezes, preferia salgar os lábios, na tentativa de procurar o impulso de bicho que ele prefere. Desistiu! Fechou a caixa de Pandora, fechou a vontade insaciada do segredo. Guardou o pecado tentador de uma Eva em luxúria e vestiu de negro a dança carmim de Salomé. O amor bate-lhe no peito num ritmo desconcertante, incerto, em ferida!
Respira devagar, com dificuldade. Respira num tem que ser imposto pela vida. Não quer morrer de amor, mas sente moribundo o uso do verbo amar, na pele e na alma!

2 comentários:

  1. Lindo... mas triste!
    Gostei bastante e senti-me na pele "dela"... com um amor moribundo.
    Beijos

    Mariana

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  2. Adorei o layout!
    Este texto é lindo!
    Gostei tanto dele, como se as palavras me falassem do passado...



    Beijo
    Obrigado pela partilha! :)
    Isa

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