segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Se ficares no meu passado



O que apetecia mesmo?! Tantos verbos cheios de movimento, em infinito imperativo, que não existem. Verbos! Que definem o indefinível que mexe, magoa, recorda, esmaga. Verbos como: rasgar, partir, quebrar, mudar, gritar, questionar, esquecer, limpar, seguir! Hoje ela saiu! A praia, que costuma ser deserta, apenas cheia dos dois, salpicava-se de gente. Feliz! O som do mar faiscava no som das vozes de miúdos e gente grande que preguiçavam na areia. Quase cinco da tarde, numa tarde de Domingo quieto. Mudos os desenhos que ela riscava com a colher na espuma do café, um desenho de letras escritas com paciência! Mudos os casais, das mesas vermelhas de plástico, com ar moreno. Como se pertencessem à paisagem do verão normal, de um Julho atípico. Vazia a cadeira, também vermelha, onde ela pousava o saco leve de palavras e sinais. Um domingo típico, quente, de um Julho atípico, para ela, portanto! Invejou, breve, qualquer casal das mesas vermelhas! Sem sacos vazios de palavras. Casais de dois! Efectivamente dois! Mordiscava, lenta, o seu coração preto, que se prendia a um fio de cetim no seu peito. E ela cansa-se de entender o trivial. Cansa-se de ficar no passado que persiste em ser presente. E questiona o lugar, como se aquela cadeira ali ao lado, lhe respondesse às frases que não ouvirá, lhe mostrasse as sombras das mãos que estão longe, do sorriso que sorri, algures, na face de uma não amada, com a legitimidade, do futuro que ela não tem! Mas o futuro não existe! Disse-lhe uma vez um amigo. Por isso ela limpa as imagens do Domingo. Sacode o sol da pele, pousa o coração inanimado no peito e pensa apenas na hora seguinte, que espera que passe rápido, como todas as outras, como se esperasse algo diferente, depois, no dia seguinte! Raramente sai aos Domingos.
Raramente se mistura com muita gente, mas também era-lhe indiferente a quantidade de rostos abstractos e iguais, espelhados, agora, nas montras convidativas, passos mais ou menos em valsa, e os olhares semi perdidos no desejo de ser similar aos manequins, elegantes, formatados, amorfos, sem emoção, mas também sem dor! A saia era branca, desigual! Com flores de cores desiguais. Vestiu. Moldava-se a sua forma curvilínea que ele gosta de tatear. Pensou apenas nele! Podia imaginar os seus dedos a bordar a sua pele, primeiro no tecido leve, depois na sua pele suave. Ele sorriu-lhe do outro lado do espelho. Desiguais os dois, logo ele iria gostar. Mas, quando a noite chega e a saia está despida ainda na sacola de papel, são os verbos de um infinito imperativo que a vestem. E o coração que ainda se prende no peito, tenta-se a gritar emudecido para dentro, enquanto ela rasga, quebra, questiona, mas não muda, não parte, não limpa e muito menos esquece, o olhar que se destacava e o monopoliza no meio da multidão numa noite cheia, parecida, com esta! E de todos esses verbos, um deles marca o lugar na cadeira vazia! O verbo SER, na interrogativa, dentro do peito dele, algures!

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