domingo, 27 de maio de 2012

Existindo...

- Como estás tu? - Perguntou-lhe a amiga, sempre à espera da voz do sorriso. - Estou, estando. Respondeu. Estava. Numa inquietação quieta. Foi assim o domingo inteiro. Estava sem ser. Estava. Sem existir. Sem apetecer. Rosto descoberto e as mãos vazias. Estava! - E ele? Tens notícias dele? Sim. Ela tinha notícias dele. Estava também. Mas existia, além de estar, desde sexta-feira à noite. Existia bem. Teve dedos e mãos que o despiam. Teve um cabelo solto no seu peito e a madrugada dormida a dois. Existia. Estando na perfeição de um mundo escolhido. Estava sim. Bem. Estava e existia. Num sábado colorido. Com risos felizes e a cama desfeita. Existia, pousado e calmo no jardim entre morangos por colher e as cerejas duras, frescas, na árvore com raízes fundas, na terra que o prendia a existir. Estava existindo no domingo soalheiro no sopé da montanha já sem enigma ou peça de puzzle. Ele existia bem. Um corpo preso na água doce de um lago de um jardim familiar. Flores e sol. E cheiros. Longe da maresia imperfeita. Sim estava. O corpo. - E como sabes a contagem dessa escadaria perfeita? Ele disse-te isso tudo? Perguntava de novo a amiga, já sem esperança do sorriso na voz. - Não! Foi o silêncio dele que me veio segredar ao ouvido e contou-me o reencontro do corpo dele! Apenas se esqueceu de me segredar sobre a alma…creio que ele apenas existe…mas não é!

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