segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Um quase...perfeito



Poderia sim, continuar a amar-te no silêncio proibido. Poderia ser o outro lado da balança que te equilibra no sorriso, no sexo, no riso, no teu eu que só sabe ser comigo. Poderia ser isso tudo. Hoje, amanhã. Na próxima semana e no mês onde o calor torna os corpos sedentos de areia. Depois calcarias comigo as folhas primeiras do Outono. As minhas cores favoritas que tu sabes que me caem bem. Pegarias na minha mão e brincarias com os meus dedos. Puxavas-me de encontro ao teu peito, onde me aninharia quieta. Poderia ser tua sempre. Trocaríamos presentes em Dezembro. O meu caberia no teu bolso. Assim como cabe o meu coração no teu peito. E tu és o equilibrista perfeito enquanto abres a porta do teu mundo perfeito como tu. Um dia questiono-me. Pergunto-te se estou bem sentada ao teu lado nesse equilíbrio frágil da tua balança. Dizes que sim. Mas eu mexo-me mais um pouco. Caio. Saio do virtual da tua perfeição. Regresso ao meu real quotidiano, imperfeito. As minhas mãos estão ásperas. O meu vestido guardado. Volto a olhar para mim. A minha vida de horas certas e mesmas. Agarras-me? Não. Não podes. Mesmo em desequilíbrio de vidas tuas. Deixas o riso, pesas de novo o teu eu incompleto, sorris apenas. O teu outro lado da balança é raso. Resvala. Toca na relva perfeita do teu jardim perfeito. O sexo será apenas sexo. Sem dedos nem alma quieta no teu colo. Chamam-te para um lanche apetecível, de uma fatia de bolo numa tarde chuvosa de Páscoa. Sentas-te, normalmente no teu sofá confortável. Talvez seja essa a definição mais próxima de amar: amar é saber como agradar o outro com uma simples fatia de pão-de-ló! Olhas pelas vidraças e bocejas aborrecido porque a chuva te impede de molhar o teu corpo na água da piscina. Num repente sentes apenas o peso incomensurável do teu corpo. Levantas-te e sem pensar, olhas-te ao espelho do teu quarto vazio de duas pessoas. Vês-me no fundo dos teus olhos. Percebes que ali está a tua alma. Mas não é dela que te alimentas. Olhas em redor. Tudo imaculado. Tudo nos sítios certos. Abres mecanicamente uma gaveta. Cheira a lavanda a tua roupa. E as tuas camisas caprichosamente engomadas sentem falta das minhas mãos que as desconcertam. Tu também sentes. Mas preferes o prato da balança em desequilíbrio a resvalar pela relva do teu perfeito jardim. És forte. Suficientemente forte. Depois sempre tens a fatia fresquinha do bolo à tua espera. À noite sabes que a caixa mágica do teu portátil te trará sorrisos suficientes que te façam esquecer a tua alma. Depois voltarás para a tua cama de dois. Tu com toda a certeza esconderás o teu corpo grande, quieto, do lado direito da cama. Irás fechar os olhos de um cansaço falso. Ouves uma respiração que não a minha e por instantes desejas o meu corpo pequeno enroscado ao teu. Cerras com mais força os teus olhos. E guardas-me neles, para que no dia seguinte, no mesmo espelho, possas voltar a ver a tua alma. Até um dia. Em que já lá não viverei e o prato da balança frágil se quebra, e ficarás apenas com o amar numa eterna fatia de bolo de pão-de-ló, no cheiro da tua roupa a lavanda e na perfeição das tuas camisas engomadas!

1 comentário:

  1. Perfeição....

    Um dia, uma pessoa, disse-me que a perfeição não existe!
    Acredito piamente nisso, mas também acredito que somos capazes de moldar a imperfeição a nosso favor.
    Um dia acabamos por nos cruzar com ela!!

    ResponderEliminar