terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cor e frio...



Limpou as lágrimas. Olhou-se ao espelho e caprichou a maquilhagem. Forçou o riso. Fingiu o sorriso. Depois escolheu com cuidado a saia justa. Vestiu o decote em v. O colar revelava o peito pequeno e provocador. Sentiu um aperto no peito e quase misturava as lágrimas com o risco preto que realçava os olhos quase verdes. Olhou o relógio. A hora estava ali a dizer-lhe para descer as escadas e fechar a porta. Faltava apenas o toque efémero do perfume que ia ficando mesclado na sua pele. Vestiu o casaco quente. Aqueceu alma por momentos. Fechou a porta finalmente e saiu para a rua da noite fria de Dezembro. Fechou a porta das memórias. Prendeu o sorriso nos lábios e decalcou o pensamento com a frase do livro: «A ausência dá de troco a despedida»! A cada degrau que descia passavam os sonhos, os lugares, o mar, a estrela, a caixinha de segredos desvendados por Pandora.
Mecanicamente fechou a porta do carro e não deixou aquela música do rádio tocar. Não essa noite, não com ela de sorriso preso. O Natal estava ai à porta, e o brilho da magia das luzes e do riso feliz das gentes seria algo quase insuportável nesse ano. Mas não queria pensar nisso. Não já.
O jantar esperava-a. Alguém a esperava. Sem planos!
Desprendeu o sorriso nos lábios mas ele colou. No olhar. No beijo macio na face rosada e fria dela. Inconsequente e definível apenas pelo prazer de estar. Naquele momento perdeu, nem que por instantes a chave da porta da memória. E brilhou embalada na melodia de letra bem definida da época de cor e frio bom.

4 comentários:

  1. Ai Estela Estela, que bem que escreves!.:)

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  2. Gostei de descobrir este teu (novo) recanto...

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  3. Olá Pedro, pensei que já o conhecias...o recanto de uma Pandora que já não tem mais nada a descobrir na sua caixinha :)

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  4. Anabela obrigada :) beijinho, sempre bem-vinda.

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